Partidos disputam cargos em 6 agências reguladoras
- 12/03/2013 |
- Por Daniel Rittner | De Brasília
- Correio Braziliense
A possibilidade de troca de comando em seis agências
reguladoras até o fim do ano atraiu a cobiça dos partidos da base
governista, especialmente PMDB e PTB, que se movimentam para obter as
indicações. Estão em aberto ou ficarão livres 24 vagas nas diretorias
dos órgãos reguladores até dezembro. O governo não terá um caminho fácil
para apontar esses dirigentes. Uma manobra regimental na Comissão de
Infraestrutura do Senado dificulta a aprovação de nomes escolhidos pelo
Palácio do Planalto sem acordo prévio com os parlamentares. Dilma troca chefia de seis agências e PMDB faz ofensiva por cargos.
A presidente Dilma Rousseff tem nas mãos a possibilidade de
trocar o comando de seis agências reguladoras até o fim deste ano. Ao
todo, estão em aberto ou ficarão livres 24 vagas nas diretorias das
agências, até dezembro.
De olho nos cargos, os partidos da base governista - principalmente o
PMDB e o PTB - se movimentam nos bastidores para emplacar seus aliados.
E já fizeram uma manobra regimental, na Comissão de Infraestrutura do
Senado, para dificultar a aprovação de nomes indicados pelo Palácio do
Planalto sem acordo prévio com os parlamentares.
As trocas nas chefias das agências incluem a Aneel (energia
elétrica), a Anatel (telecomunicações), a Anac (aviação civil), a ANTT
(transportes terrestres), a Antaq (transportes aquaviários) e a Ancine
(cinema e audiovisual).
Com a justificativa de comprovar a capacidade técnica dos indicados
pelo Planalto, o senador Fernando Collor (PTB-AL) introduziu novas
regras assim que assumiu a Comissão de Infraestrutura, em fevereiro. A
partir de agora, os relatores de cada processo na comissão deverão
preparar uma "análise prévia da admissibilidade do indicado", podendo
devolver à presidência do Senado os nomes de candidatos.
A manobra foi costurada por Collor e pelo presidente Renan Calheiros
(PMDB-AL). Na teoria, aumenta o rigor das análises. Na prática, segundo
admitem alguns parlamentares, cria um mecanismo que protela
indefinidamente indicações contrárias aos interesses dos partidos
políticos.
Uma das maiores disputas gira em torno da Aneel, onde termina hoje o
mandato do diretor-geral, Nelson Hubner. O PMDB já avisou ao Planalto
que a recondução de Hubner, um dos mais próximos auxiliares de Dilma,
corria risco de ser vetada no Senado - e o governo preferiu não
arriscar.
A tendência da presidente é nomear Romeu Rufino, um técnico com mais
17 meses de mandato na Aneel, para chefiar a agência. Ele participou
ativamente das discussões sobre o plano de energia que culminou com a
redução de 20% das contas de luz. No processo de renovação das
concessões de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão, ele teve
papel fundamental nos cálculos de indenizações às empresas, valendo-se
de seus conhecimentos como contador. Com isso, ganhou a confiança de
Dilma.
Um grupo de associações empresariais do setor elétrico, que acusa a
Aneel de ter perdido autonomia decisória e hoje atuar como um apêndice
do Ministério de Minas e Energia, trabalha pela indicação de Edvaldo
Alves de Santana. Para as associações, ele é um nome capaz de restaurar
plenamente a confiança do mercado na Aneel, mas há um obstáculo concreto
para sua promoção ao comando da agência: Santana tem seu segundo
mandato vencendo em dezembro e seria preciso uma alteração legal para
lhe garantir mais tempo no cargo, o que é uma possibilidade remota.
O PMDB está decidido a cavar mais espaço na Aneel e quer uma ou duas
cadeiras em sua diretoria colegiada. Um dos candidatos preferidos do
partido é o procurador Márcio Pina, da Advocacia-Geral da União (AGU),
atualmente diretor jurídico e regulatório da Enersul - distribuidora do
Mato Grosso do Sul que está sob intervenção da agência reguladora. Já o
governo cogita indicar Rutelly Marques da Silva, secretário-adjunto de
acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, para uma das vagas na
agência. Hubner não deve ficar muito tempo desempregado. Ele é cotado
para a secretaria-executiva da Casa Civil. O titular, Beto Vasconcelos,
deve sair em junho.
Na Anatel, o impasse vai demorar mais um pouco, mas tem data marcada:
novembro, mês em que expira o mandato como presidente do petista João
Rezende, ligado ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. O PMDB
quer a vaga e pretende levar ao cargo o advogado Marcelo Bechara, já
conselheiro da agência, afilhado político do ex-ministro e ex-senador
mineiro Hélio Costa.
A Anac tem suas cinco vagas preenchidas e nenhuma delas fica livre em
2013, mas a permanência do economista Marcelo Guaranys como
diretor-presidente ainda depende do futuro da Secretaria de Aviação
Civil, que também pode ser repassada ao PMDB. Guaranys tem mais três
anos de mandato, mas sua chefia está garantida apenas até julho.
Para evitar a captura da ANTT e da Antaq por partidos de sua base,
Dilma tem estendido indefinidamente a interinidade de seus diretores,
ganhando tempo com as indicações definitivas. Na Antaq, que ficará
responsável por licitar dezenas de áreas arrendadas nos portos públicos e
por autorizar novos portos privados, um decreto nomeou dois diretores
em caráter provisório. Antes de concluir a tramitação da Medida
Provisória 595, a MP dos Portos, o governo não quer mais confusão e se
recusa a mexer com o assunto. O líder do PTB no Senado, Gim Argello
(DF), pleiteia uma vaga.
Por enquanto, o ex-ministro da Secretaria dos Portos Pedro Brito
continua à frente da Antaq, como diretor-geral interino. Ele goza da
confiança de Dilma, mas tem dificuldade em receber aval de seu partido, o
PSB, para uma nomeação definitiva. No fim do governo Lula, Brito perdeu
apoio dos irmãos Ciro e Cid Gomes, que eram seus padrinhos políticos em
Brasília. Desde então, entrou na cota pessoal da presidente.
A ANTT, que vai conduzir megalicitações neste ano, só não interrompeu
totalmente suas atividades graças a um decreto que permitiu a nomeação
de três diretores interinos. O decreto saiu poucos dias depois do veto à
recondução de Bernardo Figueiredo, em março do ano passado, ao comando
da agência. Os três interinos se mantêm até hoje nos cargos. Dilma já
indicou seus substitutos, mas o Senado ainda não agendou as sabatinas,
em um sinal de insatisfação com o perfil técnico dos candidatos.
A agência deverá leiloar nos próximos meses 10 mil quilômetros de
ferrovias, 7,5 mil quilômetros de rodovias e o trem de alta velocidade
entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Para comandá-la, a
intenção do governo é nomear o economista Daniel Sigelmann, um dos três
já indicados. Ele é um dos principais secretários do Ministério dos
Transportes. Os planos, no entanto, ainda podem mudar.
O ministro Paulo Passos, xodó de Dilma na área, deverá ser convidado
para a chefia da ANTT caso perca sua vaga na Esplanada dos Ministérios. O
cargo dele é cobiçado pelo PMDB e pelo PR, legenda à qual é filiado,
embora não conte com o respaldo do partido. A presidente gosta do
trabalho dele e reluta em tirá-lo do primeiro escalão.
Da redação: Abraço-RO
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