quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Minicom/Anatel: Tratado Internet



RESULTADO DA CONFERÊNCIA MUNDIAL DAS TELECOMUNICAÇÕES INTERNACIONAIS.

Luis Osvaldo Grossmann
Convergência Digital
Governo e Anatel defenderam nesta segunda-feira, 17/12, o resultado da Conferência Mundial das Telecomunicações Internacionais, encerrada na semana passada em Dubai. A leitura é de que o Brasil fez valer suas posições e que o documento do tratado internacional é benéfico. Mais importante: que não há nenhum impacto sobre conteúdos da Internet.
“Foi explícito que não trata de conteúdo. Isso foi muito discutido exatamente porque é questão de redes, queremos redes seguras, sem bloqueio a acesso de nenhum país”, sustentou o superintendente de Serviços Privados da Anatel, Bruno Ramos, um dos delegados brasileiros na conferência.
Nessa perspectiva, os polêmicos artigos que tratam de segurança de redes e de combate às “comunicações não solicitadas” – definição que, segundo Ramos, foi baseado no conceito de spam utilizado na União Europeia – não poderão ser utilizadas para prejudicar a Internet. A garantia, sustenta a delegação brasileira, estaria já no artigo primeiro do tratado internacional, que ressalta: “essas regulações não são endereçadas aos aspectos relacionados a conteúdo das telecomunicações”.
“Trabalhamos muito para obter a concordância dos americanos. Mas eles foram claros que estavam com mandato limitado, no sentido de que todo e qualquer tema que direta ou indiretamente pudesse tratar de Internet, eles não poderiam votar ou aprovar, teriam que ser contra”, diz o secretario executivo do Minicom, Cezar Alvarez, que também participou do encontro em Dubai.
O resultado da conferência é descrito pelos delegados brasileiros como um confronto de grandes poderes econômicos – em especial, com os Estados Unidos buscando manter o status quo na Internet por ser o país onde está sediado o principal órgão “regulador”, se é que cabe o termo, da rede mundial – no caso, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN).
Vista dessa forma, a conferência mundial das telecomunicações seria o palco de uma heroica luta dos demais países, especialmente aqueles em desenvolvimento, para terem voz na governança da Internet. É uma maneira de se ver. Por outro lado, tal perspectiva ignora que, ainda que muitos discordem do peso dos EUA e da ICANN, também resistem a que a alternativa seja materializada na União Internacional das Telecomunicações (UIT). Mal comparando, é como colocar a Anatel para governar a Internet no Brasil.
Além desses, pontos, é legítima a defesa dos delegados brasileiros do resultado final do encontro em Dubai. Afinal, tanto nos artigos 5A e 5B – aqueles sobre segurança e “comunicações não solicitadas” – como na resolução sobre governança, o papel brasileiro foi crucial. Foi do Brasil a redação dos artigos, bem como brasileira a ideia de se colocar a questão da governança – e de um maior papel da UIT nesse campo – em uma resolução separada do tratado, como forma de viabilizar sua aprovação.
Mais do que isso, a defesa também faz sentido pelo lado de que, efetivamente, houve ganhos. O Brasil conseguiu incluir no texto final as menções a maior transparência com vistas a preços menores nos serviços de roaming internacional. E também emplacou a perspectiva de que são desejáveis novos pontos de troca de tráfego regional – para que, por exemplo, as comunicações entre países sulamericanos não precisem fazer escala nos EUA, como é hoje.
“Houve muita resistência aos PTTs. Hoje são pouquíssimos países Tier 1 em que não se fala em cobrança. O que está por trás do que discutimos são questões do ponto de vista econômico”, sustenta o conselheiro da Anatel Jarbas Valente, que também esteve em Dubai. Segundo ele, embora operadoras brasileiras tenham mais tráfego que, por exemplo, as da Alemanha, aquele país europeu já possui configuração de Tier 1, enquanto o Brasil não. É uma questão relevante no custo final dos serviços, pois as redes Tier 1 alcançam todas as outras e não pagam tráfego.

Da redação:ABRAÇO-RO.

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